Patrícia Pillar sobre o Brasil: «Vivemos tempos sombrios»

Patrícia Pillar esteve em Portugal a promover o filme Unicórnio. A atriz conta- nos como foi trabalhar com Joaquim de Almeida e como vê os problemas que o seu país vive.

29 Jun 2019 | 9:50
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Patrícia Pillar, 56 anos, é conhecida pelos portugueses pelas suas participações em novelas como Cabloca, A Diarista e A Favorita, entre outras. Mas não foi para falar de novelas, género que já não faz há uns anos, o motivo que a trouxe a Portugal. Desta feita, a atriz esteve em solo luso para promover o filme, Unicórnio, acompanhada do realizador Eduardo Nunes (Sudoeste), que, após ter passado por diversos festivais e nomeado no Festival de Berlim, chega a Portugal integrado no FESTin.

«O filme é uma junção de dois contos da Hilda Hilst [N. R.: escritora brasileira] e é uma fábula. Através dela conta-se a transformação de uma menina (Bárbara Luz), de criança para mulher. É essa angústia, essa aflição das mudanças do corpo, do início do desejo, de lidar com o facto que os pais estão separados, que fala o filme. Acaba por ser uma obra muito delicada e subtil. Ela e eu, que faço de sua mãe, moramos num lugar afastado de tudo e todos. Pode ser em qualquer lugar, qualquer tempo, pois não há referências. Ela não fala de um lugar, fala de dentro dela e possuí a lentidão própria desse lugar. É um retrato de grandes acontecimentos do interior de uma pessoa.»

Quanto à mensagem, além de um texto muito lírico, é transmitida por uma expressão de um olhar, captada pela lente do cineasta, como reconhece. «O Eduardo é um poeta da imagem e a que junta o diretor de fotografia, um grande amigo dele e meu, e consegue captar tudo com uma sensibilidade absurda. O filme tem um tempo lento e que dá para observar tudo com muito pormenor, o que te leva a ver o filme com uma outra perspetiva, bem mais calma do que é habitual. A música do José Nogueira aproveita os sons da Natureza que ouvimos no filme para compor a banda sonora.»

E também é um aviso para os pais para estarem atentos às transformações dos filhos e às mudança que se vai operando neles. «É também uma mensagem para eles. É bom que os pais estejam presentes e atentos às mudanças dos filhos e às transformações da vida e, claro, sair delas maior.”

«Joaquim é um grande ator»

 

Foi o cinema que proporcionou a Patrícia Pillar a oportunidade de contracenar com um ator português de referência. «Adoro fazer cinema. Filmei com o Joaquim de Almeida em O Duelo. Trabalhar com o Joaquim foi ótimo. É um grande ator. É sempre muito fácil e bom contracenar com ele. Admiro muito o seu trabalho. Ele é um ator muito profundo e disponível.»

Já quanto a novelas é um formato que já não faz há uns tempos, mas está atenta. «A televisão está a passar por uma fase de transformação. Novela já não faço há uns tempos, desde Lado a Lado, tenho feito mais séries. A televisão está buscando uma inovação e isso é o que está a ser mais interessante e tenho estado mais focada nisso, mas feliz porque os trabalhos que tenho feito são muito desafiantes. Gravei Onde Nascem os Fortes e foi um trabalho desgastante e muito interessante. Estamos numa fase muito diversificada e de pesquisa de linguagem. Está muito livre e multifacetada.»

No Brasil, a atriz é uma pessoa atenta ao que se passa no país e são muitos os seus posts criticando o rumo da nação. «Vivemos tempos obscuro», começa por confessar.

Patrícia Pillar critica o atual governo brasileiro, liderado por Jair Bolsonaro. «Um governo que escolhe a Educação como inimigo, bem como os artistas, os professo-res, cientistas, pesquisadores… gente, é aí que está o futuro de uma nação. Na Educação, na Cultura, na Ciência, na Tecnologia, na Inovação e quando temos um governo que olha com puro preconceito, não só em relação a isso, como até ao próprio meio ambiente, à demarcação da própria terra indígena, enfim… é um atraso completo. Mas acredito no povo brasileiro, na nossa raça e na nossa gana… acredito que vamos mudar e que vamos sair maiores com essa experiência ruim. E, acima de tudo, acredito muito nos jovens, nos estudantes, que saem para a rua e têm legitimidade para isso. O grande acontecimento político do Brasil virá dos jovens… seguramente!», conclui.

Texto: Eduardo César Sobral | Fotos: AG News
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