Pai de Rita Lello morreu intoxicado. Atriz nunca foi ao cemitério

O pai de Rita Lello morreu aos 33 anos. A atriz nunca entrou no cemitério onde o progenitor está sepultado e, até aos seus 20 anos, sonhava que ele estava vivo.

17 Out 2020 | 17:10
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Rita Lello abriu o coração a Daniel Oliveira, numa conversa para o programa “Alta Definição”, da SIC, e a relação com a mãe, a atriz Maria do Céu Guerra, as saudades do pai, Luís Lello, que morreu aos 33 anos, e a cumplicidade com o filho, Vasco, foram os motes da conversa.

Rita Lello, que atualmente interpreta Amélia na novela “Nazaré”, também da estação de Paço de Arcos, confessou ao apresentador que não consegue encontrar muitas semelhanças entre si e a mãe. “Com a minha avó, sim”. “Damos muitas turras uma à outra”, revelou, entre risos.

Mesmo a nível profissional, a história é igual. “No palco, a minha energia não tem nada a ver com a dela”, disse. “É uma mulher extraordinária e magnífica. Muitas vezes, zangamo-nos em trabalho e a seguir vamos jantar e está tudo bem. É um equilíbrio cá nosso.”

 

Como Rita Lello soube da morte do pai

 

Do pai, Luís Lello, Rita Lello garantiu que “as memórias são todas felizes”. “Era um homem alegre, disponível e muito carinhoso”, explicou.

A atriz acabou por se emocionar ao recordar a infância. “Tinha dez anos (…) quando a minha mãe me disse que o meu pai tinha morrido. Disse-me: ‘Querida, tenho uma coisa triste para te dizer. O teu pai morreu’. (…) Eu disse-lhe que queria vê-lo e ela disse: ‘Já não podes’.”

Luís Lello morreu com uma intoxicação de gás na casa-de-banho, no apartamento onde estava a dormir naquela noite. “Ele vivia no Brasil, estava cá para passar o Natal. Não o chegámos a ver”, contou Rita Lello.

“Ficou tudo de pantanas, ninguém sabia como contar àquela menina, isso nunca me revoltou sequer. (…) São tudo razões de amor. (…) A família demorou um bocadinho de tempo para me contar. Só percebi mais tarde. Ele tinha 33 anos, foi completamente inesperado. Até aos 20 e tal anos sonhava que o meu pai estava vivo. Era como se não tivesse acreditado que ele tinha morrido, até muito tempo. Era como se o inconsciente não acreditasse.”

“Era um ator muito giro, moderno, trabalhava muito o corpo. Vejo-o no meio dos outros e ele era incrível. Reconheço-me nele”, disse ainda

A atriz da SIC confidenciou que nunca foi ao cemitério onde o pai está sepultado. “Acho que não é aí onde se celebram os mortos. Fazia muita cerimónia com a minha avó, nunca seria capaz de lhe pedir para me lá levar.”

 

A cumplicidade com o filho

 

Rita Lello é mãe de Vasco, de 19 anos, fruto do ex-relacionamento com José Fernando da Encarnação da Silva. “É um miúdo de que as pessoas gostam e que elogiam”, confidenciou.

Daniel Oliveira questionou a convidada: “Ser mãe tornou-te mais forte?” “Tornou-me mais frágil. Passei a ter medo da morte, que não tinha”, confessou.

 

O reconhecimento dos artistas em Portugal

 

Rita Lello terminou a entrevista a mostrar a sua opinião acerca do reconhecimento dos artistas no nosso País. “Acho que Portugal não reconhece os seus artistas. Os políticos têm muito medo dos artistas. Têm desprezo e têm necessidade às vezes do palhaço. Em termos institucionais, nenhum artista português é tratado como merece. Em nenhuma das áreas”, disse.

“É transversal a todos os partidos. A Assembleia de República já devia ter feito o Estatuto do Profissional de Palco e de Audiovisual. Devíamos ser reconhecidos como uma profissão, que têm, naturalmente, especificidades e necessidades de determinadas formações, regulação de mercado, proteção laboral, obrigações. São os políticos que têm de fazer, não são os patrões. Temos muita gente muito boa, na pintura, na arquitectura, na música, na literatura…”, disse.

Relativamente ao público português, Rita Lello não tem dúvidas: “é amoroso”. “Reconhece o nosso trabalho.”

 

Texto: Joana Dantas Rebelo; Fotografias: Arquivo Impala e reprodução SIC
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