RTP a ferro e fogo! Jornalistas revoltados com decisões da diretora de Informação

Jornalistas estão revoltados com algumas medidas da diretora de Informação. Não concordam com o adiamento do Sexta às 9 e questionam por que razão foi ela a moderar o debate de António Costa…

29 Set 2019 | 8:40
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O desempenho de Maria Flor Pedroso como diretora de Informação da RTP está a ser posto em causa por vários jornalistas. Nas últimas semanas, são muitos os que lhe apontam o dedo e questionam algumas das decisões que tem tomado, o que tem dado origem a um ambiente tenso nos corredores do canal.

Há duas semanas, a dúvida que se levantou foi sobre a continuidade do programa Sexta às 9. Eduardo Cintra Torres, na sua crónica semanal no CM, afirmou que o programa de informação, apresentado por Sandra Felgueiras, tinha sido suspenso e que isso se devia a motivações políticas.

A RTP rapidamente desmentiu a notícia, através de um esclarecimento à TV 7 Dias, garantindo que o regresso do formato tinha sido apenas adiado. A TV 7 Dias sabe que o programa regressará à antena a 11 de outubro, ou seja, na sexta-feira seguinte às Eleições Legislativas, que decorrem a 6 de outubro: «Houve e continuará a haver ajustes de programação em função da cobertura da campanha eleitoral. Todas as alterações foram articuladas com os responsáveis dos vários programas.»

Apesar da resposta rápida, esta justificação não foi totalmente convincente. «Dizer que o programa foi adiado por causa dos debates com os candidatos políticos não faz sentido. O Linha da Frente, por exemplo, é emitido às quintas-feiras, depois do Telejornal, e regressou na data prevista», refere uma fonte do canal.

«O Sexta às 9 também podia ter regressado no início de setembro, como acontece sempre, e, se fosse necessário, fazia-se um ajuste na grelha em situações pontuais», acrescenta a mesma fonte, sublinhando com ironia: «Estão feitas algumas reportagens sobre política que iam ser emitidas agora em setembro. Curiosamente, esses mesmos trabalhos só deverão ir para o ar já depois das eleições. Não é estranho?»

A TV 7 Dias sabe também que há quem discorde dos atos de Maria Flor Pedroso. «Sente-se que ela está a controlar  demasiado o que é feito na Informação e que isso condiciona o trabalho dos jornalistas», diz a mesma fonte, acrescentando que vários profissionais já pediram ao Conselho de Redação para se pronunciar sobre o caso.

Outra decisão de Maria Flor Pedroso, que tem causado mal-estar, é a redução da equipa do Sexta às 9. «Não só reduziram o número de jornalistas, como substituíram alguns com provas dadas na investigação por outros que não têm tanta experiência nesta área. Se isto não é cortar as pernas à investigação, não sei o que será…»

 

Mal-estar na redação

 

O Sexta às 9 não é o único caso que está a causar tensão na RTP. Cândida Pinto foi escolhida por Maria Flor Pedroso para dar a cara por um programa de entrevistas a alguns candidatos às eleições, chamado Eu, Cidadão (e que até à hora de fecho desta edição ainda não tinha data de estreia marcada).

«Há muito mal-estar na editoria de Política por a Cândida estar a fazer campanha e ter esse programa. Este trabalho devia ser feito por jornalistas que acompanham a política nacional o ano inteiro e ela é coordenadora dos programas não-diários, canal África e Internacional. Esta escolha não faz sentido», conta uma fonte, sublinhando ainda que a editora de Política, Luísa Bastos, não foi informada desta decisão. Refira-se ainda que o Prós e Contras voltará à emissão a 7 de outubro.

Se o ambiente já andava tenso, na segunda-feira, dia 16, a situação sofreu um novo agravamento. No debate entre António Costa e Rui Rio, mediado por jornalistas dos três canais de Informação (RTP, SIC e TVI), Maria Flor Pedroso foi a representante do canal do Estado.

Uma das polémicas teve a ver com um possível grau de parentesco da diretora de Informação do canal estatal com António Costa, o que poderia condicionar o profissionalismo da jornalista. Segundo reza, são primos. Contactada pela TV 7 Dias, a RTP foi categórica: «Maria Flor Pedroso não é prima de António Costa.»

Factualmente, esta resposta é verdadeira. Porém, existe uma ligação por afinidade. Ou seja, o padrasto de António Costa, Manuel Pedroso Marques, é tio de Maria Flor Pedroso. «A Flor é muito próxima do Costa, mais até do que do irmão dele, o Ricardo, logo, havendo esta ligação familiar por afinidade, eticamente, ela não poderia ter moderado o debate. Então nós passamos a vida a denunciar casos de relações familiares no Governo e depois isto acontece?», conclui.

Para evitar certas especulações, a mesma fonte adianta: «Nunca poderia ter sido ela a ir a este debate, até porque a RTP tem jornalistas muito bons, como o José Rodrigues dos Santos ou o João Adelino Faria, e que, com certeza, fariam as perguntas certas.»

 

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Texto: Patrícia Correia Branco com Rita Montenegro | Fotografias: Tito Calado

 

(artigo originalmente publicado na edição nº 1697 da TV 7 Dias)

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