Joana Pais de Brito: «não sei se quero ter filhos»

Aos 35 anos, Joana Pais de Brito garante que a vida em cima dos palcos não anula a vida pessoal. A atriz que se celebrizou por fazer imitações não esconde dúvidas que tem em constituir família.

10 Nov 2019 | 12:50
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TV 7 Dias – Em fevereiro “invade” o palco do Auditório dos Oceanos, no Casino Lisboa, com A Peça Que Dá Para o Torto. Afinal, o que vai dar para o torto?

Joana Pais de Brito – Vamos tentar que a coisa não dê para o torto. Mas, pelos vistos, há atritos entre si e a Inês Castel-Branco, não é verdade? A Inês é uma atriz muito conhecida. A personagem dela também acha que é a melhor atriz do Mundo… e pronto.

E com o restante elenco?

É mais fácil trabalhar com o restante elenco do que com a Inês. Claro que isto é tudo uma brincadeira, mas escrito não passa a brincadeira, não é? [N.R.: exclama, entre risos]. Agora falando muito a sério, ainda não começámos a ensaiar, só vamos começar em janeiro, mas já tirámos fotos, já tivemos várias reuniões. Está a ser um processo muito engraçado, que começou com um casting de três dias com a encenadora inglesa Hannah Sharkey, e tem sido um processo muito bom. Mas já há uma união de grupo, daí eu e a Inês já brincarmos muito.

Considera que a união de grupo é a chave para o sucesso de um espetáculo?

Sem dúvida. Então neste espetáculo, que não querendo revelar muitos pormenores vai ter muitos desafios físicos, tem vários riscos controlados. Temos de estar como uma orquestra, todos a trabalhar para o mesmo. A união de grupo é muito importante e ajudou muito termos passado três dias de casting. A Hannah tem uma abordagem muito diferente de fazer as coisas. Estávamos a competir uns com os outros, mas era como se tivéssemos a trabalhar todos juntos.

Vai dar vida a Anita…

Sim, é uma stage manager que está sempre nos bastidores a resolver tudo. Foi ela que fez o cenário, que cria, pinta, faz os desenhos e depois vê-se numa situação que nunca sonhou na vida, mas que vai alterar tudo o que ela pensou que lhe pudesse acontecer. É uma pessoa que gosta de estar atrás do palco, que gosta do seu trabalho, que ajuda toda a gente e que, de repente, vê-se numa situação completamente improvável.

Foi isso que aconteceu na sua vida, ver-se numa situação improvável?

Depois de me formar e ter estudado para isso, sim, mudei de profissão! Fui estudar acting para Nova Iorque, estive lá dois anos e quando regressei podia dizer que era atriz profissional. Depois fui começando a trabalhar.

E o que a fez mudar?

Era terapeuta ocupacional. Estudei na Escola Superior de Alcoitão. E o que me fez mudar? O teatro sempre foi uma paixão, só que achava que tinha de tirar um curso superior noutra área e a de saúde interessava-me muito. Mas o chamamento foi mais forte e decidi investir a todos os níveis e estudar interpretação. E foi assim. Depois nunca mais voltei à terapia ocupacional.

Foi um ato de coragem deixar o certo pelo incerto.

Sim, foi. São aquelas coisas que uma pessoa faz quando é movida por uma grande paixão. São os chamados saltos de fé, porque claro que uma ida para o estrangeiro envolve muitas coisas e estar longe das nossas pessoas queridas envolve dinheiro. Mas correu tudo bem. Como foram esses tempos em Nova Iorque? Eu tinha referências de escolas em Nova Iorque, porque tinha estudado com um professor americano, e marquei várias entrevistas em várias escolas. Fiquei na que gostei mais. Foi assim que fui lá parar. Eu não conhecia escolas na Europa. Foram dois anos incríveis. Foi um grande investimento. E depois uma mistura de trabalho, sorte e pequenos milagres que acontecem e que não têm explicação.

Tem saudades?

Sim, fiquei apaixonada pela cidade. Já lá voltei, entretanto. Foi muito bom. É uma cidade com muita oferta, embora não tivesse muito dinheiro para ela, mas só andar na rua já é uma oferta. A diversidade foi espetacular. Foi tudo maravilhoso.

Recuando no tempo, como surgiu a paixão pela representação?

Foi uma infância recheada de muitas histórias e muita fantasia, muitas idas ao teatro. As minhas festas de anos eram sempre no Teatro Infantil de Lisboa.

Mas por opção ou influência dos seus pais?

Por influência dos meus pais. Acho que eles passaram para mim esse amor pelo sonho e pela fantasia de contar histórias, apesar de não estarem ligados a esta área. Mas cresci a ouvir muitas histórias, a mascarar-me muito. Acho que começou aí. Uma pessoa vê um pano de loiça e uns óculos de sol da mãe e de repente transforma-se num pequeno pónei. Coisas assim!

O facto de ser filha única fê-la viver ainda mais num universo de fantasia?

Os filhos únicos brincam muito tempo sozinhos, nós estamos sempre a usar a imaginação. Acho que isso influencia muito.

Como foram os primeiros passos?

Comecei como qualquer pessoa que quer começar, com muita vontade e a enviar currículos para todo o lado. Currículos que ainda não tinham nada lá escrito, mas a enviar as minhas fotografias de atriz e a tentar chegar às pessoas, a fazer curtas-metragens aqui e ali, projetos não remunerados… Faz parte quando se começa. Depois deixa de fazer parte, mas quando se começa acho que temos de estar disponíveis, depois cada pessoa terá os seus limites. Mas tive sorte com os projetos que integrei e com as pessoas com quem voltei a trabalhar a seguir. Nos primeiros tempos acho que não se pode ser muito exigente. A minha exigência era mais pelo tipo de texto ou de ideia. Era mais nesse nível. Depois a pessoa vai ganhando currículo e experiência. Isto não tem fórmula nenhuma, as coisas vão acontecendo. Vamos conhecendo pessoas, projetos diferentes…

E quando decidiu embarcar nesta aventura o que achou a sua família?

Primeiro estranhou, pela mudança de profissão, e depois foi normal, porque toda a gente sabia que era uma paixão antiga, por isso foi natural. O estranho foi ter escolhido outra profissão.

Mas gostava do que fazia?

Adorava! Eu guardo com muito carinho as memórias, tanto da faculdade como do trabalho. Trabalhei durante dois anos como terapeuta ocupacional. Eu trabalhava num centro de reabilitação psicossocial, com pessoas com problemas psiquiátricos. Naquele centro ajudávamos as pessoas a orientarem-se da melhor maneira e a tentarem que a vida fosse o mais normal possível, apesar da doença. Fazia relaxamento, treinos a andar de transportes públicos, para as pessoas se orientarem melhor…

Leva algumas bagagens desses tempos?

Sim, um grande respeito por quem tem qualquer tipo de problema de saúde mental, que é muito incapacitante, que é como uma doença física, e às vezes o limiar é mais ténue e é ainda uma área
de muito preconceito. É um tipo de doença onde existe muito preconceito. Eu conheci pessoas muito especiais e todas elas muito diferentes. E uma característica dessa profissão é vê-las para além da doença. Acho que trabalhar em qualquer área de saúde nos dá uma bagagem de empatia grande e de não julgar à partida as pessoas, o que nem sempre conseguimos fazer. Mas não pondero voltar a esta área. Nunca se sabe o dia de amanhã, mas por enquanto não.

 

«O humor foi um acaso e continua a ser»

A vida de ator anula a sua vida pessoal?

Não. Hoje, tenho tempo para tudo. Também não sei se quero ter filhos, mas é como tudo… Nunca se sabe.

Qual foi o seu primeiro trabalho?

Foi uma curta-metragem chamada Celeste, realizada por José Maria Norton de Matos, que é um realizador que está nos Estados Unidos. Esse foi o meu primeiro trabalho. Foi uma curta que escrevi com ele e protagonizei. Era um drama com uns traços, não querendo ser presunçosa, mas tinha uns laivos de Almodôvar.

Foi com Donos Disto Tudo que conquistou notoriedade.

Sim, foi o projeto com maior exposição e, para um ator, os projetos de maior exposição claro que nos posicionam, passamos a existir no mercado.

E como se proporcionou essa experiência?

Recebi um convite da direção da RTP. Foi assim, foi um telefonema que me espantou bastante, tendo em conta o elenco que iria integrar, composto por pessoas com muitos anos de carreira, que eu sempre admirei desde pequena.

Foi o humor que escolheu a Joana e se cruzou consigo por acaso?

Sim, foi. O humor foi um acaso e continua a ser.

E as imitações?

Já fazia para mim e para os meus amigos, às vezes, e de repente eles disseram: ‘Agora vais ter um trabalho assim’. E eu: ‘Sim, senhora’. Foi assim. Foi uma feliz coincidência, na verdade. Nunca procurei fazer humor, nem nunca procurei fazer imitações, o meu objetivo era fazer personagens e continua a ser. Criar personagens e viver desta profissão sempre foi e continua a ser o meu sonho, que se está a tornar realidade.

E houve alguém que se tivesse ofendido com as suas imitações?

Que eu soubesse, não. Toda a gente é muito simpática comigo e eu tenho tido feedback com quem me tenho cruzado.

Mas já se cruzou com a Cristina Ferreira.

Sim, já fui a “casa” dela. Já contracenei com ela. Foi um desafio de um enorme risco da parte dela também, porque abri o programa e foi um momento especial.

E com quem gostava de contracenar?

Eu gosto de contracenar e trabalhar com pessoas que sejam criativas e apaixonadas pelo que fazem. Qualquer pessoa que se enquadre nessa categoria. Trabalhar com o Herman José foi um sonho e um check na minha lista.

«A vizinha de pijama vai voltar»

Que projetos tem pela frente?

Vem aí a segunda série da Patrulha da Noite. Ainda não sei dizer nada, porque não temos material, mas vai estrear em 2020 e vamos ter um programa especial de fim de ano. A série retoma em 2020. Sei que a vizinha de pijama vai voltar.

Que personagem mais gostou de fazer?

Por falar na vizinha de pijama, eu adorei fazê-la. Adorei mesmo. Gosto de todas as personagens, não consigo escolher, e sou uma mãe com uma espécie de 20 mil filhos. É como me sinto.

Já recebeu propostas para fazer novelas?

Nunca recebi propostas para fazer novelas, mas gostava de fazer de tudo, criar personagens. O meio onde acontece pode ser teatro, televisão ou cinema.

 

Textos: Telma Santos; Fotos: Helena Morais e redes sociais

 

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