“Fui mesmo abaixo”: Fernando Daniel assume estado depressivo e medo de ser esquecido

De regresso à antena como mentor em “The Voice Kids”, Fernando Daniel fala à TV 7 Dias do homem a quem dedica uma das suas canções e revela como a pandemia provocada pela COVID-19 o afetou.

31 Jan 2021 | 13:15
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Fernando Daniel carrega nas costas o título de melhor voz de Portugal. Quatro anos depois de se ter sagrado como o grande vencedor de “The Voice Portugal”, o jovem de 24 anos que conquistou o País e se tornou num autêntico fenómeno mundial de popularidade nas plataformas digitais, depois de ter entoado “When We Are Young”, da britânica Adele, nas provas cegas do concurso da RTP1, está de volta ao palco que o celebrizou, desta feita como um dos mentores do “The Voice Kids”.

“A experiência tem sido muito enriquecedora. Tenho aprendido a estar no outro lado e a gerir as emoções de crianças, que não é fácil, mas acima de tudo está a ser uma boa etapa da minha vida”, esclarece o cantor de Estarreja à TV 7 Dias.

Transparente e bastante emotivo, o mais novo dos quatro mentores do talent show da estação pública não escondeu as lágrimas na estreia do formato quando o aspirante a cantor Bruno Santos entoou o seu tema, “Melodia da Saudade”. “Esta música é dedicada ao meu avô e, curiosamente, o Bruno revelou que cantar este tema foi uma forma de homenagear também o seu avô, que já faleceu”, explica.

 

Anível, uma das maiores influências de Fernando Daniel

 

Aníbal. É assim que se chama umas das maiores influências de Fernando Daniel. Apesar de o chamar de avô, Aníbal era apenas um dos patrões da sua mãe, Maria do Céu. “Não era avô de sangue, mas chamava-o de avô porque era uma pessoa muito importante para mim”, exclamou, contando como este se cruzou na sua vida: “A minha mãe era doméstica e trabalhava em casa de algumas pessoas, inclusive na casa do meu avô Aníbal. Nessa altura, a minha família não tinha possibilidades para me pôr numa creche e ele deixou sempre a minha mãe à vontade para me levar para casa dele. Foi assim que criámos uma relação e comecei a chamá-lo de avô, e à mulher dele também.

Fernando Daniel destaca ainda a importância de Aníbal na sua infância, uma vez que foi um dos principais suportes da família quando o seu progenitor sofreu um trágico acidente de viação. “Esteve presente nos meus aniversários, batizado, comunhão, esteve presente no divórcio dos meus pais, nunca nos deixou faltar nada, e nem mesmo quando o meu pai teve o AVC, enquanto conduzia, dois anos antes de se separar da minha mãe”, recordou, lamentando: “Foi um dos momentos mais difíceis da minha infância e o meu avô esteve sempre ao meu lado. Foi um anjo na terra. A minha mãe era a única que trabalhava, uma das minhas irmãs estava na faculdade, outra no secundário e eu a estudar também, nunca nos deixou faltar nada. Devo-lhe muito.”

Por essa razão, sempre sonhou em retribuir ao seu avô todo o amor que lhe deu através de uma canção. “O meu avô partiu em 2012 e sempre disse que um dia, quando fosse cantor, iria escrever uma música que retratasse a saudade que sinto por ele e tudo o que ele significa para mim. É uma forma de agradecimento. É o meu anjo-da-guarda.”

 

Fernando Daniel assume: “À mínima coisa sinto-me afetado”

 

Debaixo dos holofotes há quatro anos, Fernando Daniel ganhou projeção após a edição do seu primeiro álbum, “Salto”, lançado em 2018. Apesar de se sentir feliz com o que tem conquistado, o jovem afirma que começa a sofrer na pele o peso da fama.

“Sinto que, como a fama aumenta, as críticas vão aumentando, mas acho que as pessoas julgam muito o livro pela capa e que quando ouvem uma música na rádio julgam que o cantor é isto ou aquilo. Às vezes olham para a letra e acham que é básica… tudo bem, todos são livres de ter opinião, mas acho que as pessoas deviam tentar interpretar as coisas e tentar perceber que história está por trás da canção. Por exemplo, falando da ‘Melodia da Saudade’, os haters [N.R.: pessoas que praticam o ódio] acham essa música superlamechas, mas depois não sabem qual é a história dessa canção, não sabem aquilo que o meu avô foi para mim. Acho que isto também é culpa do fácil acesso ao ódio ou à disponibilidade de ódio gratuito”, confidenciou, reforçando que tenta não dar importância às críticas destrutivas.

“Não ligo aos haters. Gosto de ler as críticas, sejam elas positivas ou negativas, até porque as negativas, quando são bem comentadas, podemos retirar alguma aprendizagem disso, mas neste último ano, com a ausência de concertos, com a autoestima a ir abaixo e com o estado de espírito mais em baixo, à mínima coisa sinto-me afetado, e as críticas de ódio abalam sempre um bocado.”

Além dos comentários depreciativos e alguns de mau tom, Fernando Daniel afirma que a falta de trabalho, devido à pandemia, acabou por deixá-lo num estado depressivo: “Tive uma altura em que fui mesmo abaixo. Fiquei com medo que se esquecessem de mim, porque estou a iniciar a minha carreira. Estive assim na altura em que era para atuar nos Coliseus, em outubro. E, apesar de as vendas do meu segundo álbum, ‘Presente’, editado em plena pandemia, estarem a correr bem, eu estava tão mal a nível psicológico que o sucesso não me soube a nada, até que comecei a pensar que devia afastar estes pensamentos, olhar para as coisas positivas e mais para a minha família, que é onde carrego as minhas baterias, e os momentos bons foram aparecendo”, esclareceu.

 

Mentores de “The Voice Kids” unidos

 

Radiante com a oportunidade de participar na descoberta de novos talentos nacionais, Fernando Daniel refere que criou uma ligação muito especial com o restante painel de mentores: Marisa Liz, Carolina Deslandes e Carlão. “Quando o programa começou, criámos uma ligação forte e genuína. Trazemos a picardia e o espírito juvenil que temos para o programa, mas também trazemos o espírito maduro nos momentos certos”, disse, confidenciando que gostava de ir um dia cantar com os três.

 

Texto: Telma Santos (telma.santos@impala.pt); Fotos: reprodução redes sociais

 

(artigo originalmente publicado na edição nº 1767 da TV 7 Dias)

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