“Cheguei a vomitar sangue”: Angélica Jordão relata perda de filha recém-nascida

Angélica Jordão contou os momentos vividos após perder a filha durante a 23.º semana de gestação. A ex-concorrente de “A Quinta” aponta o dedo aos profissionais de saúde pela forma que foi tratada.

12 Mai 2021 | 19:30
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Angélica Jordão marcou presença no programa da TVI “Dois às 10”, desta quarta-feira, 12 de maio, para partilhar o seu testemunho, após perder a filha, Lua, quando ainda se encontrava na 23.º semana de gestação. Com ela estava também o companheiro Jacob.

Visivelmente emocionada e ainda em choque com tudo o que aconteceu, a ex-concorrente do reality show “A Quinta” começou por contar que vivenciou uma gravidez “normal”, apesar de alguns “enjoos”. “Cheguei a vomitar sangue de tanto vomitar”, disse, apesar de naquele momento achar que tudo estava normal.

Foi no dia 3 maio que o instinto de Angélica lhe dizia que algo não estava bem. “Comecei a sentir qualquer coisa estranha, a senti-la cada vez menos”, afirmou. Apesar de ter sido aconselhada não dramatizar a situação, a irmã de Mel Jordão decidiu ir ao centro de saúde. “’Não, não é normal ela ficar mais do que um dia sem se mexer’”, recorda. “Até que às 7h30 da manhã fui ao centro de saúde – isto no dia 5 de maio – e disse: ‘eu não sinto a minha bebé a mexer-se’”.

Fizeram-lhe uma ecografia de dopler para auscultar a bebé. “Disseram-me que isto é baixo para o batimento cardíaco de um bebé”. Durante a escuta, os batimentos cardíacos intensificaram-se, mas por cautela, a médica encaminhou-a para o hospital. “Provavelmente está tudo bem, mas vou enviar-te uma carta de emergência para ires para o hospital de Faro”, disse-lhe a profissional de saúde. “Cheguei ao Hospital de Faro e recebi a pior notícia da minha vida”.

Chegada àquela unidade hospitalar, Angélica Jordão voltou a fazer um ecografia. “Ao fazer o exame, o ecrã estava virado para eles, então não conseguia ver. E eu soube que algo se tinha passado quando a médica chamou outra . Aí é que comecei aos gritos, a arranhar-me. Tenho arranhões no meu corpo”. Ainda sem a confirmação oficial por parte da equipa médica, Angélica já tinha consciência de que tinha perdido a bebé. “Quando se chamam outra para ter certezas…”, constata.

A confirmação surgiu então depois. “Viram o ecrã para mim, mostram-me o coraçãozinho dela e dizem-me: ‘aí como pode ver, ela já não tem qualquer tipo de batimento’”, recorda com a voz embargada. “Aí eu gritava pela minha mãe. Comecei a dar socos na parede. Comecei a arranhar-me muito e… caí no chão. Chamaram a psicóloga e depois só queriam que eu me sentasse, mas uma pessoa quando está em desespero não quer estar sentada […]. Só queria estar a aliviar aquela frustração que eu estava a sentir em algo”.

Angélica Jordão: “Tomei o pior comprimido da minha vida”

“Nunca me consegui acalmar”, rememora. “Depois tomei o pior comprimido da minha vida. Era sempre eu que tinha de perguntar: ‘que comprimido é este que me estão a dar?’ e eles: ‘este comprimido vai parar a gravidez’. E eu comecei aos gritos: ‘não, não quero. Por favor, não’”. Perante a insistência da mãe, que estava ao lado neste doloroso momento, Angélica acabou por tomar a medicação. “Tive de ser muito forte. Lembro-me que estava a tomar o comprimido e estava a arranhar-me toda e bebi tanta água…”, recorda com a voz embargada.

A ex-concorrente de reality shows da TVI considera não ter havido mais cuidado na forma como o processo foi conduzido por parte dos profissionais de saúde. “Acho que eles já estão tão habituados àquilo, mas mesmo assim não é uma justificação para tratar com tanta frieza, algo que é tão mau”.

Após a toma do comprimido que interrompeu a gravidez, Angélica Jordão permaneceu no hospital até ao dia seguinte. “Perguntaram-me se que queria ir para casa. Como é óbvio quero ficar aqui. Não quero ir para casa, sabendo que tenho algo que não está bem dentro de mim”.

“Não quero que a minha filha seja um ratinho de laboratório para estudantes”, diz Angélica Jordão

Na manhã subsequente, a cunhada de Diogo Piçarra foi informada dos procedimentos que viriam a ser postos em prática: “’Vamos ter de pôr três comprimidos dentro de si’”, explana. “E eu:’Que comprimidos são estes?’ Lá está, tinha de ser eu sempre a perguntar”, explicando ainda que um dos medicamentos tomados serviu para induzir o parto. “Custou-me muito a médica estar-me a pôr aquilo. Tudo o que faziam, eu chorava…porque a minha filha estava ali”. As horas subsequentes foram de ausência de sono, mesmo apesar dos calmantes que lhe foram administrados. “Fiquei muitos dias sem conseguir comer. Ainda hoje é difícil comer, porque neste momento sinto-me culpada”, afirma.

Após o desfecho trágico, Angélica Jordão procurou perceber as causas da perda da bebé sem encontrar um motivo. Fizeram-lhe uma amniocentese e outros exames médicos. Sobre a amniocentese ainda não obteve um resultado, “mas tudo o resto deu tudo normal. Não havia razão nenhuma para acontecer”.

Sobre o momento do parto, Angélica recorda “uma dor horrorosa” , “ uma dor que no final não valeu a pena”. “Tive-a nos meus braços, peguei nela, beijei-a, abracei-a…”, afirma, contado que o feto lhe foi, de seguida retirado. “O médicos não me quiseram dar a minha filha para fazer o enterro e é por isto que eu estou aqui hoje. Eles disseram-me: ‘Você sabe que a bebé já não é sua. A bebé agora é uma alma’. Pronto, foi essa resposta que me deram.”

Angélica Jordão conta ainda que perguntou em diversas ocasiões o que seria feito ao corpo da bebé. “Estava sempre a perguntar ‘o que vai acontecer à minha filha? Eu quero o corpo da minha filha’”. “Depois da autopsia – claro que quero que a minha filha seja autopsiada – mas depois quero que ela venha para mim. Preciso fazer o meu luto. Não quero que a minha filha seja um ratinho de laboratório para estudantes”.

Angélica Jordão revoltada com hospital onde a filha nasceu

Lua nasceu na passada quinta-feira, 5 de maio, e desde então permanece no hospital, sem o direito de voltar para junto dos pais. Eis as razões que os médicos evocaram: “Disseram-me que legalmente é a partir das 24 semanas. A minha filha tinha 23 semanas e três dias”. E onde é que ela está?, questiona Cláudio Ramos. “Pelo que me disseram, hoje ia ser transferida para o Egas Moniz para ser autopsiada […], para ter um estudo melhor do que aconteceu.”

A equipa do “Dois às 10” procurou esclarecimento junto da unidade hospitalar que Maria Botelho Moniz passou a ler em direto. A nota esclarece que “a Presidente do Conselho de Administração terá entrado telefonicamente em contacto consigo, que lhe apresentou todas as justificações, respondeu às suas dúvidas que considerou pertinentes, e tal como foi comunicado à utente [Angélica jordão], o corpo será entregue aos pais após a autopsia de acordo com a lei em vigor para que possam proceder às respetivvas cerimónias fúnebres.

Após a leitura do esclarecimento, Angelica Jordão afirma que recebeu, efetivamente a chamada telefónica, mas “depois de vocês [“Dois às 10”] terem entrado em contacto”. “Ligaram-me ontem a caminho de Lisboa. Isso para mim é o mais ridículo. Quer dizer que tem de ser a comunicação social a entrar em contacto para eles não terem medo daquilo que pode vir acontecer”, lamenta.

“Eu leio muito. Não sou a única mãe que passa por isto. Há mães que ainda hoje não conseguem fazer o luto porque não sabem onde está a criança”, salienta. Mulher de fé, Angelica Jordão sabe que ganhou um anjo da guarda, mas garante: “É um vazio que vai estar para sempre no meu coração”.“Tenho altos e baixos”, diz sobre o seu estado emocional, mas questão de marcar presença no matutino da TVI por saber que há muitos casos como os seus: “Eu sei que não sou a única”

Texto: Alexandre Oliveira Vaz; Fotos: Reprodução Redes Sociais

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